GEOTURISMO
E GEOCONSERVAÇÃO NA ROTA DOS TROPEIROS NO PARANÁ
Mineropar – Minerais do Paraná S/A
A Rota dos Tropeiros é um roteiro turístico implementado recentemente no
Paraná, que envolve dezesseis municípios em seu trajeto. Historicamente este é
o caminho de ligação entre os produtores de muares no sul do Brasil e a região
sudeste a partir do século XVIII, quando então começou o ciclo do ouro em Minas
Gerais. Este caminho é rico em história e muitos municípios apresentam, ainda
hoje, as marcas deste período como casarios coloniais e a cultura própria do
tropeirismo. Uma importante característica deste caminho é a definição de seu
traçado, pois as circunstâncias necessárias para o transporte dos animais
(pasto, topografia suave...) foram os fatores que determinaram a passagem pelos
chamados Campos Gerais no Paraná. Em outras palavras, o caminho das tropas foi
traçado naturalmente, não sendo um produto turístico criado artificialmente.
O projeto turístico foi idealizado em 1997 e implementado oficialmente a partir de maio de 2003, numa parceria entre a Secretaria de Estado do Turismo, o Sebrae-PR e a Associação dos Municípios dos Campos Gerais (AMCG). Esta região especial oferece ao visitante vários atrativos geoturísticos,
tanto como paisagem, quanto geomonumentos
(afloramentos rochosos), sítios paleontológicos e história da mineração.
O projeto Levantamento de Sítios Geológicos e Paleontológicos
ao longo da Rota dos Tropeiros foi criado pela Mineropar em 2005 e pretende
integrar a esta rota, já estabelecida turisticamente, a informação geológica e
geográfica, contribuindo tanto no incremento de produtos turísticos ofertados
na região, quanto com o conhecimento da geologia do Estado do Paraná para a
comunidade.
As áreas de geoturismo e geoconservação, relativamente novas dentro do
estudo das geociências, existem há alguns anos nos países da Europa e nos
Estados Unidos. Em 1992 foi criado, na Europa, o ProGEO - Associação Européia
para a Conservação do Patrimônio Geológico, cujo objetivo geral foi de
incentivar a conservação do patrimônio geológico e a proteção de sítios e
paisagens de interesse geológico na Europa.
Em 1996, a IUGS (União
Internacional das Ciências Geológicas) iniciou o projeto GEOSITES, cuja meta
era a elaboração de inventário e base de dados de lugares de interesse para
promover a geoconservação. Desde então, serviços geológicos de vários países
iniciaram inventários dos pontos de interesse geológico nacionais, definidos
como áreas que mostram uma ou várias características de importância dentro da
história geológica de uma região. São consideradas
nos países mais desenvolvidos como uma parte fundamental do patrimônio natural
Também em
1996, a UNESCO vem preparando o programa Geoparks - áreas protegidas com
limites bem definidos que contêm lugares de interesse geológico de especial
importância científica, singularidade ou beleza, que são representativos da
história geológica de uma região ou de eventos e processos que os formaram.
Em países desenvolvidos, como uma demonstração de respeito ao planeta, os monumentos geológicos são tombados e, muitas vezes, transformados em museus ao ar livre, com a colocação de painéis informativos sobre sua evolução geológica. As rodovias são sinalizadas com placas indicando os pontos de interesse geológico e roteiros, mapas e outros produtos são oferecidos em pontos de venda, oferecendo aos cidadãos a familiarização com a história geológica.
O Brasil é signatário do Patrimônio Mundial da Unesco, convenção internacional para a proteção de sítios culturais e naturais e,
em 1997, aconteceu a primeira reunião da Comissão
Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos – SIGEP, formada por representantes de dez
entidades brasileiras ligadas à geologia, ao meio ambiente, à paleontologia e
ao patrimônio histórico.
Há quase uma década atuando, a SIGEP elaborou o livro
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil, relacionando 52 sítios de
interesse, nos quais incluem-se o Parque de Vila Velha e o Sítio Paleontológico
de Jaguariaíva, que faz parte da Rota dos Tropeiros.
Geoturismo
Considerando-se
a evolução da atividade de turismo nas últimas décadas, o termo geoturismo pode
ser vinculado ao conceito de desenvolvimento sustentável do turismo. Conforme
pesquisa realizada pela Travel Industry Association of America (TIA) e
pela National Geographic Traveler em 2002, o geoturismo
consolida-se como modalidade de viagem. “Viajantes procuram destinos que
preservam a cultura, a ecologia e a paisagem local. Está aumentando,
consideravelmente, a quantidade de pessoas interessadas no geoturismo, termo
que há pouco tempo identificava um nicho de mercado”. A pesquisa realizada
constatou que, nos Estados Unidos, 55 milhões de pessoas se classificam como
“geoturistas”.
Desde a
década de 90 o turismo experimenta um processo de crescimento sem precedentes,
tornando-se o maior movimento de pessoas já ocorrido na história da humanidade
e se revelando também a principal atividade econômica mundial, superando
setores tradicionais, como o petrolífero, automobilístico, eletrônico e
farmacêutico.
Este
turismo tornou-se mais exigente com o produto, cobrando qualidade, conteúdo e
consciência ambiental. Como resultado, verifica-se um crescimento no turismo
voltado para a natureza, ou seja, a consciência e a sede de informações sobre o
meio ambiente interferindo na escolha dos destinos.
O
geoturismo posiciona-se como elo de ligação entre o ecoturismo, que teve seu
auge no final da década de 90, caracterizado pelo contato com a natureza e pela
busca de experiências e sensações, e o turismo cultural, cujo principal
atrativo é o conteúdo de conhecimentos agregado ao destino turístico, como em
museus, igrejas e conjuntos arquitetônicos. A proposta do geoturismo é agregar
o conhecimento geocientífico ao patrimônio natural.
Em
pontos turísticos naturais já estabelecidos, como Foz do Iguaçu ou Vila Velha,
a informação geológica apresentada de maneira didática e palatável faz com que
o turista leve essa informação ao seu país ou local de origem, contribuindo
imensamente com a divulgação do ponto visitado, com o acréscimo cultural e
aumento da consciência ambiental do visitante e, em última instância, com
melhorias na economia local.
Outra
situação do geoturismo é a possibilidade de transformar um ponto de interesse
geológico em atrativo turístico. O melhor exemplo, no Paraná, são as estrias
glaciais na Colônia Witmarsun, município de Palmeira, incluído na Rota dos
Tropeiros. Um afloramento de arenito mostrando marcas da existência de geleiras
no passado da região recebeu a implantação de infra-estrutura da comunidade
local e painéis informativos e folders da Mineropar, com a explicação dos
processos e eventos geológicos que ali aconteceram. Esse afloramento, antes
ameaçado de destruição por falta de informação, passou a ser visitado por
turistas, estudantes e visitantes especializados de vários lugares do mundo.
O Projeto Geoturismo na Rota dos Tropeiros
O projeto em andamento
pela Mineropar propõe, fundamentalmente associar as geociências ao turismo e levar o turismo às geociências. Com a integração entre várias instituições que podem contribuir com as pesquisas, como a UFPR,
UEPG, ECOPARANÁ, PARANÁ TURISMO, SECRETARIA DA CULTURA,
IAP, AMCG e prefeituras, a
proposta é de realizar o inventário e a
difusão dos sítios geológicos e paleontológicos paranaenses, visando a
integração da geologia ao turismo com a conseqüente geração de cultura, emprego
e renda.
Além do
levantamento, alguns objetivos esperados são também a difusão do conhecimento geológico do território paranaense, o
fomento à criação de políticas de valorização e conservação deste patrimônio, a
geração de empregos para mão de obra local e abertura de áreas potenciais ao
turismo geocientífico e a elaboração de material didático para a difusão dos
sítios geológicos do Paraná através de mapas, cadernos e folhetos explicativos,
elaboração de roteiros geológicos e vídeos.
Geologicamente o trajeto se estende sobre a borda oriental da
Bacia Sedimentar do Paraná, envolvendo sedimentos marinhos e glaciais do
Paleozóico, vulcanismo do Cambriano e Mesozóico e rochas metamórficas
pré-cambrianas. Feições geomorfológicas são o principal atrativo da região, com
predominância de canyons, escarpas, relevos de exceção em arenitos e muitas
quedas d´água. Antigas minerações de ouro e ferro e presença de águas minerais
acrescentam conteúdo histórico e científico ao patrimônio natural.
Levantamentos, realizados em 300km da rota dentro do estado do
Paraná, apontaram uma grande diversidade geológica neste trecho e a existência
de sítios geológicos de interesse turístico entre os parques naturais já
implantados. A abordagem dos processos geológicos e de paleo-ambientes propõe
uma continuidade turística ao longo do eixo considerado. Parques geológicos ou
geomorfológicos como Vila Velha, Guartelá, Cerrado e Gruta do Monge existentes
na Rota dos Tropeiros são interligados conceitualmente por reservas
particulares e áreas de proteção ambiental em contextos geológicos semelhantes.
O cadastramento, estudo e divulgação de pontos intermediários aos parques já existentes resultaram
numa nova abordagem para o geoturismo nesta região, baseado na continuidade do
caminhamento e no aumento do volume de informações divulgado, o que pode
resultar no aumento de pontos de visitação.
Entre pontos turísticos já conhecidos, como
cachoeiras, canyons, afloramentos rochosos, montanhas e escarpas, e pontos de
conteúdo geologicamente didático, como evidências de geleiras, contatos entre
diferentes tipos de rocha, falhamentos ou feições vulcânicas, foram cadastrados
cerca de 300 pontos de interesse no total, ao longo da rota.
Foram identificadas feições geológicas
características em cada município envolvido, como os depósitos glaciais gerando
rochas características em Rio Negro e Campo do Tenente, estrias por onde
passaram geleiras em Palmeira, marcas de ondas de mar em Porto Amazonas,
arenitos formados por derretimento de geleiras em Lapa e Ponta Grossa, arenitos
de origem marinha em Balsa Nova, Piraí do Sul, canyons formados pela erosão em
Tibagi e Piraí do Sul, vulcões antigos em Castro, a riqueza de fósseis em
Jaguariaíva e Ponta Grossa, corredeiras e saltos nos vários rios de toda a
região e relevos exóticos explicados por vários processos geológicos em quase todos
os municípios.
A existência de um roteiro histórico e turístico já
implantado é fator fundamental na implantação do roteiro geoturístico e sugere
uma novo direcionamento conceitual para uso em turismo e na manutenção do
patrimônio geológico, além da divulgação da informação geocientífica.
A implantação do geoturismo na região
envolvida na Rota dos Tropeiros resulta, em última instância, na agregação de
valor ao patrimônio natural, incorporando conhecimentos geocientíficos ao
turismo. Este processo pode resultar na abertura de novos pontos de visitação
turística, em função do conteúdo geológico, a exemplo do que já acontece na
Colônia Witmarsun.