GEOTURISMO NO MUNICÍPIO DE PARELHAS/RN (NE DO BRASIL): NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO COMO ATRATIVO TURÍSTICO
MARIA DA GUIA LIMA1 & MARCOS ANTONIO LEITE DO NASCIMENTO2
1. Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica
(PPGG/UFRN), mariadaguia@yahoo.com.br;
2. Terra & Mar Soluções em Geologia e Geofísica Ltda.,
marcos@terraemarsolucoes.com.br;
Abstract
The mean that Parelhas city accomplishes in the development of the tourist activities
in the Rio Grande do Norte State, shows the necessity of a study on its geotouristic
potential. The development of those studies is not planned properly by the state
and private organizations, considering that Parelhas city has a great potential
for the tourism. In this article different geotouristic sites were identified,
with emphasis for the geomorphologic, archeological and mineralogical sites.
The previous and strategic planning for the development of those sites is important
for the growth of the tourism and of the social, economic and cultural aspects
of the Parelhas city.
Introdução
Os atrativos turísticos do Rio Grande do Norte se estendem muito além
das belas praias e do Sol constante. Novas modalidades de turismo estão
sendo potencializadas no interior do Estado, através do Programa de Regionalização
do Turismo Roteiros do Brasil promovido pelo Governo Federal em parceria
com o Governo do Estado permitindo a criação de diferentes pólos
turísticos.
Dentre os vários segmentos do turismo nestes pólos, destaca-se
o ecoturismo, que se desenvolve dando ênfase a biodiversidade (fauna e
flora). Contudo, um novo segmento do turismo vem se tornando também realidade
no Rio Grande do Norte (Nascimento et al. 2004), o chamado Geoturismo
modalidade que se desenvolve em bases geocientíficas e que tem como principais
atrativos as diversas feições geológicas/geográficas
(Hose, 1995). Este, busca assegurar o desenvolvimento de práticas conservacionistas
e sustentáveis, proporcionando ao turista uma maior vivência do
ambiente visitado através da interpretação da geodiversidade,
que representa fenômenos e processos ativos, de caráter geológico,
geradores de relevo, rochas, minerais, fósseis e solos (Stanley, 2000).
Assim, entender a geodiversidade, em conjunto com a biodiversidade (e não
somente esta última), de uma dada região, permitirá efetuar
ações mais completas e, conseqüentemente, resultados positivos
e duradouros, bem como, uma experiência mais rica para o turista.
A região representada pelo Município de Parelhas, interior potiguar,
reúne uma grande geodiversidade com destaque para suas serras, sítios
arqueológicos e recursos minerais, constituindo-se, portanto, atrativos
geoturísticos perfeitos. Deste modo, apresenta-se aqui uma panorâmica
de todo este potencial, possibilitando assim a utilização de um
novo segmento de turismo no Rio Grande do Norte.
Localização Geográfica
O município de Parelhas dista 232 Km de Natal, cujo acesso se dá
pela RN-226 até Currais Novos, RN-427 até Acari e pela RN-086
até a sede municipal (Fig. 1a). A mesma encontra-se inserida na microrregião
do Seridó Oriental, fazendo parte do Programa de Regionalização
do Turismo através do Pólo Seridó.
Atrativos Geoturísticos
O município de Parelhas está localizado numa região que
apresenta um alto potencial geoturístico, tendo como principais atrativos
os sítios geomorfológicos, arqueológicos e mineralógicos.
Algumas considerações à cerca dos principais sítios
presentes neste município serão apresentadas a seguir, objetivando
a descrição de suas características naturais, do seu potencial
para o desenvolvimento de atividades econômicas, científicas e
de lazer e da necessidade de sua conservação e preservação
para as futuras gerações.
Sítios Geomorfológicos
O Município de Parelhas encontra-se inserido no contexto geomorfológico
da Depressão Sertaneja e do Planalto da Borborema. A caracterização
geomorfológica do município foi obtida neste trabalho, a partir
da confecção e análise do modelo de elevação
digital de terreno (MDT) da região, o qual proporcionou uma melhor visualização
do relevo (Fig. 1b). A análise dos modelos também permitiu a seleção
dos locais propícios ao desenvolvimento do geoturismo, associando o mesmo
ao turismo de aventura. A seguir tem-se uma descrição de alguns
dos locais identificados.
Açude Boqueirão
O Açude João Alves (popular Boqueirão) situa-se a leste
da sede municipal, distando 3 Km do centro da cidade. Esta barragem, construída
em 1988, é responsável por formar o terceiro maior reservatório
de acumulação de água do Estado, com capacidade de armazenamento
de 85 milhões de m3 de água.
Na região onde está inserido o Açude Boqueirão afloram
os xistos pertencentes à Formação Seridó. Estas
rochas encontram-se em atual processo de erosão dando uma configuração
espetacular para o relevo da região. Fraturas de direção
E-W desenvolvidas na Serra das Queimadas proporcionou a formação
de uma grande abertura, sendo então aproveitada para instalação
da parede do açude.
No ano de 2004, o Açude Boqueirão deu um toque especial a paisagem
local, com a sua sangria, produzindo um dos mais belos cenários da região
(Fig. 2a). Aliado a este belíssimo cenário encontra-se o Terminal
Turístico do Boqueirão, que oferece aos visitantes uma bela vista
para o açude e locais para exposição de artesanatos locais,
além de oferecer tranqüilidade e conforto.
Serra das Queimadas
A região abriga feições típicas de aspectos curiosos
e que habitam o imaginário popular, que podem ser identificados como
sítios geomorfológicos, tanto por apresentar beleza cênica,
como também por permitir um estudo sobre o seu processo evolutivo ao
longo de milhares de anos. A Serra das Queimadas é geologicamente constituída
por metaconglomerados e quartzitos, os quais são freqüentemente
intrudidos por pegmatitos mineralizados.
Esta serra encontra-se em destaque devido a alta resistência a erosão
das rochas que a compõem. O contrário é observado para
a região onde aflora os xistos da Formação Seridó,
que por serem menos resistentes a erosão, estão rebaixadas e formam
atualmente a região da Depressão Sertaneja.
O alto da serra das Queimadas proporciona aos turistas um belíssimo visual
da região, podendo ser observado um desnível de até 500
m em relação a base da serra (Fig. 2b). Serras de topo plano,
pontiagudos, relevos ondulados, açudes, entres outras, são feições
que podem ser observadas do alto desta serra.
Pedra da Boca
Situada no Boqueirão, a 3,5 Km da cidade, na Fazenda de Geraldo Aquino.
O acesso à mesma é dado por uma trilha a partir da fazenda de
Geraldo Aquino. A atuação dos processos erosivos, com predomínio
de erosão diferencial, juntamente com a atuação do intemperismo
proporcionou o desgaste da rocha (metaconglomerado), dando-lhe o aspecto de
uma gruta com formato de uma boca.
Serra dos Quintos
Localizada na localidade dos Quintos, a 18 Km da cidade de Parelhas, esta serra
mostra uma bela visão da região da Depressão Sertaneja.
A presença de duas serras paralelas (Serra das Queimadas e Serra dos
Quintos) com uma depressão no meio, por onde passa o Rio dos Quintos,
que deságua no Rio Seridó, torna o cenário geomorfológico
encantador. Esta drenagem, que corre entre as duas serras, está geologicamente
controlada pela Zona de Cisalhamento Serra dos Quintos. Estes registros geológicos
além de possuir grande potencial didático-científico constituem
cenários de rara beleza, demonstrando o potencial da área para
o desenvolvimento de atividades geoturísticas.
Vale salientar que isso é apenas um pouco do enorme potencial que os sítios geomorfológicos de Parelhas tem a demonstrar, podendo ainda citar feições interessantes relacionadas as serras da Coruja, da Areia, da Maniçoba e do Maribondo, dentre outras
Sítios Arqueológicos
Os sítios arqueológicos presentes no município estão
localizados no Boqueirão (Sítio Mirador) e no Povoado Santo Antônio
(pinturas da Cobra). Aqui será tratado apenas o Sítio Mirador,
por ser o único visitado.
O Sítio Mirador dista 3,5 Km da sede do município e seu acesso
a partir de Parelhas é dado por uma estrada carroçável
até a Fazenda Boqueirão. O mesmo é formado por um grande
bloco rochoso, localizado na margem do Rio Seridó, com painéis
de pinturas rupestres ao longo de 40 m do paredão que possui 15 m de
altura (Martin 1997). As pinturas são desenvolvidas em metaconglemerados
nas cores vermelha, amarela e branca. Segundo Martin (1997), estas pinturas
são da Tradição Nordeste e da Subtradição
Seridó, definidas por um grande número de figuras humanas, que
em geral aparecem como se estivessem em movimento e gritando, retratando cenas
do cotidiano (Fig. 2c). Vestígios da presença do homem antigo,
com idade de 10.000 anos atrás foram encontrados neste sítio.
A visitação das pessoas por curiosidade, já se caracteriza
um incipiente turismo informal nas inscrições rupestres do Mirador.
A falta de cuidado desses excursionistas despreparados para tal atividade de
visitação, está contribuindo para a sua rápida deterioração,
pondo em risco, pelo menos, 10.000 anos de história.
Sítios Mineralógicos
O município de Parelhas tem no segmento de minerais de pegmatitos a sua
maior diversidade de bens minerais, com destaque para, gemas, feldspatos, caulim,
micas, columbita-tantalita, quartzo e minerais de lítio (Fig. 2d). Este
setor se caracteriza pela predominância de um grande número de
pequenos depósitos de corpos pegmatíticos. Esta diversidade de
minerais, com destaque para a turmalina, água marinha, granada e ametista,
muitos considerados preciosos, vem atraindo vários turistas e comerciantes,
proporcionando timidamente o turismo de negócios. Este tipo de turismo
também é observado através da exploração
de pedreiras (quartzito, granito, pegmatito, metaconglomerado), cujo produto
já é bem aceito no mercado nacional e internacional, sob a forma
de rochas ornamentais.
Necessidade de Preservação e Discussões Finais
O enorme potencial geoturístico ora apresentado para o Município
de Parelhas mostra a necessidade de um estudo mais detalhado com relação
a este novo segmento. Vê-se que é possível trabalhar o geoturismo
naqueles locais onde antes não se tinha nem idéia do seu potencial.
Contudo, vale salientar que na comercialização do turismo deve-se
observar a venda do produto com cuidado, pois se mal planejado esse turismo
pode degradar o meio-ambiente.
Convém lembrar, que o potencial geoturístico apresentado na região
de Parelhas é apenas uma pequena amostra do que pode ser trabalhado.
Diante desse panorama, ressalta-se a importância de um planejamento prévio
e estratégico para o desenvolvimento desta atividade para que ela se
perpetue como uma fonte de emprego e renda para o município e comunidades
envolvidas. Porém, tal planejamento deve se orientar em bases preservacionistas,
haja vista que o patrimônio geoturístico possui a particularidade
de ser único e irrecuperável, quer dizer, uma vez deteriorado
ou mesmo destruído estará perdido para sempre, impossibilitando
que outros possam vir a ter o prazer de desfrutar do ambiente.
Referências
Hose, T.A. 1995. Selling the Story of Britain´s Stone. Environmental Interpretation,
2: 16-17.
Martin G. 1997. Pré-história do Nordeste do Brasil. 2.ed. Recife:
Ed. Universitária da UFPE, 445p.
Nascimento, M.A.L.; Medeiros, W.D.A.; Galindo, A.C.; Souza, Z.S. 2004. Potencial
geoturístico do Estado do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil: destaque
para seus monumentos/sítios geológicos. In: Cong. Brás.
de Geol., 42, Araxá/MG. Resumos. 1 CD.
Stanley, M. 2000. Geodiversity. Earth Heritage, 14: 15-18.