Trabalho publicado no XXI Simpósio de Geologia do Nordeste, realizado no período de 12 a 15 de novembro de 2005, na Sessão Temática “Turismo Geológico”.

GEOTURISMO NO MUNICÍPIO DE PARELHAS/RN (NE DO BRASIL): NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO COMO ATRATIVO TURÍSTICO

MARIA DA GUIA LIMA1 & MARCOS ANTONIO LEITE DO NASCIMENTO2

1. Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica (PPGG/UFRN), mariadaguia@yahoo.com.br;
2. Terra & Mar Soluções em Geologia e Geofísica Ltda., marcos@terraemarsolucoes.com.br;

Abstract
The mean that Parelhas city accomplishes in the development of the tourist activities in the Rio Grande do Norte State, shows the necessity of a study on its geotouristic potential. The development of those studies is not planned properly by the state and private organizations, considering that Parelhas city has a great potential for the tourism. In this article different geotouristic sites were identified, with emphasis for the geomorphologic, archeological and mineralogical sites.
The previous and strategic planning for the development of those sites is important for the growth of the tourism and of the social, economic and cultural aspects of the Parelhas city.


Introdução
Os atrativos turísticos do Rio Grande do Norte se estendem muito além das belas praias e do Sol constante. Novas modalidades de turismo estão sendo potencializadas no interior do Estado, através do Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil promovido pelo Governo Federal em parceria com o Governo do Estado permitindo a criação de diferentes pólos turísticos.
Dentre os vários segmentos do turismo nestes pólos, destaca-se o ecoturismo, que se desenvolve dando ênfase a biodiversidade (fauna e flora). Contudo, um novo segmento do turismo vem se tornando também realidade no Rio Grande do Norte (Nascimento et al. 2004), o chamado Geoturismo – modalidade que se desenvolve em bases geocientíficas e que tem como principais atrativos as diversas feições geológicas/geográficas (Hose, 1995). Este, busca assegurar o desenvolvimento de práticas conservacionistas e sustentáveis, proporcionando ao turista uma maior vivência do ambiente visitado através da interpretação da geodiversidade, que representa fenômenos e processos ativos, de caráter geológico, geradores de relevo, rochas, minerais, fósseis e solos (Stanley, 2000).
Assim, entender a geodiversidade, em conjunto com a biodiversidade (e não somente esta última), de uma dada região, permitirá efetuar ações mais completas e, conseqüentemente, resultados positivos e duradouros, bem como, uma experiência mais rica para o turista.
A região representada pelo Município de Parelhas, interior potiguar, reúne uma grande geodiversidade com destaque para suas serras, sítios arqueológicos e recursos minerais, constituindo-se, portanto, atrativos geoturísticos perfeitos. Deste modo, apresenta-se aqui uma panorâmica de todo este potencial, possibilitando assim a utilização de um novo segmento de turismo no Rio Grande do Norte.

Localização Geográfica
O município de Parelhas dista 232 Km de Natal, cujo acesso se dá pela RN-226 até Currais Novos, RN-427 até Acari e pela RN-086 até a sede municipal (Fig. 1a). A mesma encontra-se inserida na microrregião do Seridó Oriental, fazendo parte do Programa de Regionalização do Turismo através do Pólo Seridó.

Atrativos Geoturísticos
O município de Parelhas está localizado numa região que apresenta um alto potencial geoturístico, tendo como principais atrativos os sítios geomorfológicos, arqueológicos e mineralógicos. Algumas considerações à cerca dos principais sítios presentes neste município serão apresentadas a seguir, objetivando a descrição de suas características naturais, do seu potencial para o desenvolvimento de atividades econômicas, científicas e de lazer e da necessidade de sua conservação e preservação para as futuras gerações.
Sítios Geomorfológicos
O Município de Parelhas encontra-se inserido no contexto geomorfológico da Depressão Sertaneja e do Planalto da Borborema. A caracterização geomorfológica do município foi obtida neste trabalho, a partir da confecção e análise do modelo de elevação digital de terreno (MDT) da região, o qual proporcionou uma melhor visualização do relevo (Fig. 1b). A análise dos modelos também permitiu a seleção dos locais propícios ao desenvolvimento do geoturismo, associando o mesmo ao turismo de aventura. A seguir tem-se uma descrição de alguns dos locais identificados.

Açude Boqueirão
O Açude João Alves (popular Boqueirão) situa-se a leste da sede municipal, distando 3 Km do centro da cidade. Esta barragem, construída em 1988, é responsável por formar o terceiro maior reservatório de acumulação de água do Estado, com capacidade de armazenamento de 85 milhões de m3 de água.
Na região onde está inserido o Açude Boqueirão afloram os xistos pertencentes à Formação Seridó. Estas rochas encontram-se em atual processo de erosão dando uma configuração espetacular para o relevo da região. Fraturas de direção E-W desenvolvidas na Serra das Queimadas proporcionou a formação de uma grande abertura, sendo então aproveitada para instalação da parede do açude.
No ano de 2004, o Açude Boqueirão deu um toque especial a paisagem local, com a sua sangria, produzindo um dos mais belos cenários da região (Fig. 2a). Aliado a este belíssimo cenário encontra-se o Terminal Turístico do Boqueirão, que oferece aos visitantes uma bela vista para o açude e locais para exposição de artesanatos locais, além de oferecer tranqüilidade e conforto.

Serra das Queimadas
A região abriga feições típicas de aspectos curiosos e que habitam o imaginário popular, que podem ser identificados como sítios geomorfológicos, tanto por apresentar beleza cênica, como também por permitir um estudo sobre o seu processo evolutivo ao longo de milhares de anos. A Serra das Queimadas é geologicamente constituída por metaconglomerados e quartzitos, os quais são freqüentemente intrudidos por pegmatitos mineralizados.
Esta serra encontra-se em destaque devido a alta resistência a erosão das rochas que a compõem. O contrário é observado para a região onde aflora os xistos da Formação Seridó, que por serem menos resistentes a erosão, estão rebaixadas e formam atualmente a região da Depressão Sertaneja.
O alto da serra das Queimadas proporciona aos turistas um belíssimo visual da região, podendo ser observado um desnível de até 500 m em relação a base da serra (Fig. 2b). Serras de topo plano, pontiagudos, relevos ondulados, açudes, entres outras, são feições que podem ser observadas do alto desta serra.

Pedra da Boca
Situada no Boqueirão, a 3,5 Km da cidade, na Fazenda de Geraldo Aquino. O acesso à mesma é dado por uma trilha a partir da fazenda de Geraldo Aquino. A atuação dos processos erosivos, com predomínio de erosão diferencial, juntamente com a atuação do intemperismo proporcionou o desgaste da rocha (metaconglomerado), dando-lhe o aspecto de uma gruta com formato de uma boca.

Serra dos Quintos
Localizada na localidade dos Quintos, a 18 Km da cidade de Parelhas, esta serra mostra uma bela visão da região da Depressão Sertaneja. A presença de duas serras paralelas (Serra das Queimadas e Serra dos Quintos) com uma depressão no meio, por onde passa o Rio dos Quintos, que deságua no Rio Seridó, torna o cenário geomorfológico encantador. Esta drenagem, que corre entre as duas serras, está geologicamente controlada pela Zona de Cisalhamento Serra dos Quintos. Estes registros geológicos além de possuir grande potencial didático-científico constituem cenários de rara beleza, demonstrando o potencial da área para o desenvolvimento de atividades geoturísticas.

Vale salientar que isso é apenas um pouco do enorme potencial que os sítios geomorfológicos de Parelhas tem a demonstrar, podendo ainda citar feições interessantes relacionadas as serras da Coruja, da Areia, da Maniçoba e do Maribondo, dentre outras

Sítios Arqueológicos
Os sítios arqueológicos presentes no município estão localizados no Boqueirão (Sítio Mirador) e no Povoado Santo Antônio (pinturas da Cobra). Aqui será tratado apenas o Sítio Mirador, por ser o único visitado.
O Sítio Mirador dista 3,5 Km da sede do município e seu acesso a partir de Parelhas é dado por uma estrada carroçável até a Fazenda Boqueirão. O mesmo é formado por um grande bloco rochoso, localizado na margem do Rio Seridó, com painéis de pinturas rupestres ao longo de 40 m do paredão que possui 15 m de altura (Martin 1997). As pinturas são desenvolvidas em metaconglemerados nas cores vermelha, amarela e branca. Segundo Martin (1997), estas pinturas são da Tradição Nordeste e da Subtradição Seridó, definidas por um grande número de figuras humanas, que em geral aparecem como se estivessem em movimento e gritando, retratando cenas do cotidiano (Fig. 2c). Vestígios da presença do homem antigo, com idade de 10.000 anos atrás foram encontrados neste sítio.
A visitação das pessoas por curiosidade, já se caracteriza um incipiente turismo informal nas inscrições rupestres do Mirador. A falta de cuidado desses excursionistas despreparados para tal atividade de visitação, está contribuindo para a sua rápida deterioração, pondo em risco, pelo menos, 10.000 anos de história.

Sítios Mineralógicos
O município de Parelhas tem no segmento de minerais de pegmatitos a sua maior diversidade de bens minerais, com destaque para, gemas, feldspatos, caulim, micas, columbita-tantalita, quartzo e minerais de lítio (Fig. 2d). Este setor se caracteriza pela predominância de um grande número de pequenos depósitos de corpos pegmatíticos. Esta diversidade de minerais, com destaque para a turmalina, água marinha, granada e ametista, muitos considerados preciosos, vem atraindo vários turistas e comerciantes, proporcionando timidamente o turismo de negócios. Este tipo de turismo também é observado através da exploração de pedreiras (quartzito, granito, pegmatito, metaconglomerado), cujo produto já é bem aceito no mercado nacional e internacional, sob a forma de rochas ornamentais.

Necessidade de Preservação e Discussões Finais
O enorme potencial geoturístico ora apresentado para o Município de Parelhas mostra a necessidade de um estudo mais detalhado com relação a este novo segmento. Vê-se que é possível trabalhar o geoturismo naqueles locais onde antes não se tinha nem idéia do seu potencial. Contudo, vale salientar que na comercialização do turismo deve-se observar a venda do produto com cuidado, pois se mal planejado esse turismo pode degradar o meio-ambiente.
Convém lembrar, que o potencial geoturístico apresentado na região de Parelhas é apenas uma pequena amostra do que pode ser trabalhado. Diante desse panorama, ressalta-se a importância de um planejamento prévio e estratégico para o desenvolvimento desta atividade para que ela se perpetue como uma fonte de emprego e renda para o município e comunidades envolvidas. Porém, tal planejamento deve se orientar em bases preservacionistas, haja vista que o patrimônio geoturístico possui a particularidade de ser único e irrecuperável, quer dizer, uma vez deteriorado ou mesmo destruído estará perdido para sempre, impossibilitando que outros possam vir a ter o prazer de desfrutar do ambiente.

Referências
Hose, T.A. 1995. Selling the Story of Britain´s Stone. Environmental Interpretation, 2: 16-17.
Martin G. 1997. Pré-história do Nordeste do Brasil. 2.ed. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 445p.
Nascimento, M.A.L.; Medeiros, W.D.A.; Galindo, A.C.; Souza, Z.S. 2004. Potencial geoturístico do Estado do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil: destaque para seus monumentos/sítios geológicos. In: Cong. Brás. de Geol., 42, Araxá/MG. Resumos. 1 CD.
Stanley, M. 2000. Geodiversity. Earth Heritage, 14: 15-18.