GEOPARQUES – RESERVAS DA GEOSFERA
Eduardo Camozzato* (ecamozzato@pa.cprm.gov.br) e Carlos
Schobbenhaus*
*SGB
O patrimônio
geológico é usualmente protegido indiretamente, entre os valores biológicos,
paisagísticos, estéticos ou culturais dos espaços naturais.
O espírito conservacionista,
marcadamente bioconservacionista, progrediu rapidamente para
uma visão holística da
natureza, passando a incluir e valorar os elementos
geológicos não só por sua importância
científica ou didática, mas por reconhecer neles a base dos
ecossistemas. A IUGS criou, em
1996, com apoio da UNESCO, o Working Group on Global
Geosites, objetivando catalogar
internacionalmente sítios de interesse das geociências. No
Brasil, desde 1997, Comissão
Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos – SIGEP
(www.unb.br/ig/sigep/), que
publicou Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
(Schobbenhaus et al., 2002),
descrevendo 58 sítios; 26 com algum grau de proteção oficial
e 32 sujeitos a degradação,
incluindo mineração. Geosítios são exposições de rochas ou
formas de terreno com alto valor para as geociências, enquanto geotopos são
geosítios (muito especiais) distinguidos por valor notável. Esses conceitos,
referidos no Briefing Seminar do 31st IGC (USGS/Reston, 2000; The New Earth
Revolution), tem concepção algo diferenciada no Departament de Medi Ambient da
Catalunha (Espanha). Essa instituição, no inventário de espaços de interesse geológico,
considera geosítios iguais a geotopos, utilizando: 1) geotopos, para desde afloramentos
até áreas relevantes com <100ha; 2) geozonas, para conjuntos de geotopos próximos,
relacionados temática e espacialmente e com áreas >100ha; e 3) geoparques,
para áreas contendo geotopos e geozonas que justifiquem destacar grandes
parcelas do território pelo interesse geológico, nesse caso conforme a
concepção de geoparques da UNESCO. A UNESCO impulsionou a segunda grande
iniciativa relacionada ao patrimônio geológico mundial criando, em 1999, dada a
necessidade de iniciativa mundial no reconhecimento de áreas de interesse das
geociências, o International Network of Geoparks Programme, associando a
preservação de sítios geológicos com desenvolvimento endógeno (ver www.unesco.org/science/earthscience/geoparks/geoparks.htm).
O Programa Geoparques da
UNESCO, cujas áreas podem ser referidas como Reservas da
Geosfera, atua em sinergia com a rede de Reservas da Biosfera do Programa MAB
(UNESCO's Programme on Man and the Biosphere). Nessas iniciativas,
geosítios/geotopos representam áreas restritas, enquanto geoparques englobam
grandes áreas com feições geológicas singulares, típicas de uma certa história
geológica cuja conservação garante a preservação de elementos fundamentais para
o elenco de ciências da Terra. As diretrizes dos geoparques pressupõem, ainda,
a participação das comunidades locais e a concorrência de elementos incidentais
(e.g., arqueológicos, ecológicos, históricos e/ou culturais) que estimulem
algum desenvolvimento sustentável para as regiões onde se localizem. As
iniciativas geosítios/geotopos/geoparques têm importância regional/nacional,
enquanto a proteção do patrimônio de valor universal (natural e/ou cultural) é
agregada a outra iniciativa da UNESCO, a World Heritage List (conceitos em http://whc.unesco.org/nwhc/pages/doc/mainf3.htm).
Nenhuma dessas áreas deve
necessariamente coincidir com unidades formais do Sistema
Nacional de Unidades de
Conservação, ainda que algum grau de proteção do Estado
sejas desejável. Nesse contexto,
geoparques se justificam pela somatório: proteção da
geodiversidade e de outros elementos
incidentais; inserção educativa das geociências; e apoio às
estratégias de desenvolvimento
socioeconômico sustentado (e.g., geoturismo), em especial de
áreas rurais economicamente
desfavorecidas possuidoras de recursos naturais
infrautilizados.